quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Movimentos e expressões juvenis da atualidade


De maneira diferente das iniciativas que mobilizaram os jovens militantes da década de 60, os jovens atuais buscam novas formas de aglutinação, participação e expressão. A nova geração não parece concentrar suas preocupações em mudar o mundo, pelo menos nos moldes da geração anterior; suas preocupações se dirigem para lutas imediatas, buscando sentir o prazer de cada conquista. É a geração que alimenta suas expectativas no meio de sucessivas desilusões da apregoada transição democrática, geração que desconhece o exílio, a perseguição, a participação clandestina, a morte por motivos políticos.

Mesmo assim, neste período, percebe-se que, pelo menos em momentos, a rebeldia, a criatividade, a espontaneidade voltam às ruas e expressam sua irreverência e combatividade. Foi assim em 1992, com a experiência dos “Caras Pintadas”, atores centrais na campanha realizada contra o Governo de Fernando Collor, que resultou no impeachment do presidente corrupto. Essa campanha levou para as ruas das principais cidades brasileiras milhares de jovens esbanjando energias, alegres, eufóricos, cheios de esperanças na força da sua geração. Iniciaram suas manifestações com cerca de 300 a 400 estudantes, foram crescendo, ganhando a adesão de outros segmentos sociais e políticos, até chegar a mobilizações de dois milhões de pessoas em São Paulo, em agosto de 1992.

Depois disto, as principais expressões juvenis se deslocam para fora das universidades e o Movimento Estudantil perde a centralidade das mobilizações juvenis.
Hoje, são redes de diferentes grupos, dispersos, esporádicos, permanentes ou transitórios que se encontram em vários ambientes para resolver problemas específicos, que herdam o sentimento de justiça das gerações anteriores: duvidam, buscam, questionam, afirmam, contestam.
Muitos grupos e/ou organizações se reúnem em torno das manifestações culturais: da música popular, hip-hop, rock, reggae, folclore; das pastorais ou movimentos juvenis eclesiais; das juventudes partidárias, das organizações de bairros e sindicais. Sentem-se convocados também pelos temas: meio ambiente, ecologia, sexualidade, entre outros. É também freqüente a valorização do lado gratuito das relações, das emoções, dos afetos.

O estilo hip-hop tem se revelado como uma das principais expressões organizativas, articuladoras e mobilizadoras das juventudes da atualidade, através do encontro do break, rap, grafite, combinando a dança de movimentos complicados, que exige muito treinamento e vitalidade (break), a dimensão musical do rap, caracterizada pelo jeito falado de cantar, cujas letras são sempre carregadas de denúncias das injustiças sociais, e o grafite, como um estilo de pinturas e desenhos em muros e grandes paredes, utilizando latas de spray de tinta, resultando em belas obras artísticas.

Os grupos de teatro popular, de danças, de capoeira, os diversos projetos que agrupam jovens a partir de iniciativas de ONGs, a diversidade de agrupamentos de jovens em torno da vivência espiritual e religiosa, as várias iniciativas de ação coletiva de estudantes em escolas públicas e privadas, as expressões específicas de jovens no interior das organizações e movimentos sociais, como do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e de outras entidades de camponeses, das mulheres, da moradia popular, dos negros, dos homossexuais, das organizações de bairros, das entidades estudantis, dos Partidos Políticos, todos esses projetos, movimentos e ações demonstram que uma nova esperança está se realizando. Não se pode afirmar que as atuais formas de organização e mobilização são menos politizadas do que as do passado, mas que a forma de fazer política atualmente, bem como o contexto sócio-político, são bastante distintos. Neste sentido, as recentes articulações em torno da participação juvenil nas políticas públicas, transformando situações de necessidades, iniciativas particulares e localizadas, em políticas universais – inclusive criando instrumentos de ação política, para a realização de tais ações, como as Conferências de políticas para as juventudes, e os Conselhos Municipais e Estaduais com representação dos governos e dos vários segmentos sociais que representam e/ou trabalham com jovens – são exemplos claros desta afirmação.

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